O PCP tinha alguma razão quando dizia que o aborto em Portugal era um problema de "classe". Na nova geografia dos valores, leis como a que ainda vigora sobre o aborto força apenas o cumprimento ou o risco clandestino aos mais fracos. Foi quase exclusivamente a pensar neles que votei Sim.
Manuel Pinheiro, n' O Cachimbo de Magritte.
Manuel Pinheiro, n' O Cachimbo de Magritte.
2 comments:
Qualquer proibição tem esse efeito económico - são os mais pobres, aqueles que usam maior percentagem dos rendimentos para usos essenciais - que são prejudicados...
António: percebo o que dizes, mas acho que é "pouco" o que dizes. Estamos a falar de uma proibição:
1) totalmente ineficaz;
2) cujo não cumprimento é tolerado pela sociedade;
3) cujo não cumprimento por parte de quem tem menos condições acarreta custos enormes em termos de saúde física e psíquica, incluindo a própria possibilidade de morte.
Falas, e muito bem, em "proibição" - embora os mais pobres sejam necessariamente os mais prejudicados por qualquer lei. Refiro isto apenas para frisar que não há neste ponto do Manuel - que é o meu - de referir o "problema de classe", qualquer perspectiva colectivista e/ou amoral.
É uma perspectiva - a minha, seguramente, julgo também que a do Manuel - "individualista", que se preocupa com o direito negativo de não haver penalização e não com o direito positivo de dar a quem quer que seja condições para, "como os ricos", ir a Badajoz ou a Londres.
É uma perspectiva que não é "amoral", desde logo por admitir que há um dilema moral em questão, mas sobretudo por entender que o Estado não se deve intrometer no assunto. Propor a não interferência do Estado nisto é também ela uma perspectiva normativa - não há "neutralidade" nisto, como em tudo.
Abraço,
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