Monday 22 January 2007

A minha preocupação

Preocupa-me saber se a lei actual lei é justa e se, não o sendo, se justifica mudá-la e como. Para saber se se justifica ou não essa mudança temos, primeiro que tudo, de ter presente a distinção entre a forma ideal e as formas possíveis de alterar a actual lei. Feita essa distinção, segue-se a necessidade de alinhavar duas coisas: todas as implicações que se seguem da manutenção da actual lei; todas as implicações que se seguem da alteração da lei - não em abstracto, mas "hoje". Entendidas todas as implicações a ter em consideração, há que fazer a avaliação de cada uma para chegar a uma decisão final, que desejamos informada, reflectida e intelectualmente honesta: manter, ou não, a actual lei, face à alternativa que está na mesa? Votar Sim, ou Não, à pergunta que vai a referendo no dia 11 de Fevereiro?

A diversidade humana implica que a forma possível de alterar a actual lei - sobretudo tendo em conta dois factores cruciais, eles próprios interligados, a saber, a necessidade de ter uma pergunta simples e curta e o facto incontornável de, se o Sim vencer, ficar muito ainda em aberto - será a forma ideal para alguns somente. Para a grande maioria de nós, será com elevada probabilidade uma solução tipicamente de second best. O meu framework é este. Não pretendo ignorar qualquer questão, mas darei o peso que entender a cada uma delas, tendo em conta as suas implicações. Dito isto, adianto que me parece pouco apreciável a postura de quem põe uma ênfase quase total no facto de a proposta actualmente em discussão não ser a ideal. Têm direito a fazê-lo, logicamente, mas isso será, pelo menos em parte, e tanto mais quanto maior a exclusividade dada a esse argumento, em certa medida uma forma de fugir ao assunto.

O que julgo importante é saber se o que está na mesa, all in all, com todos os seus prós e contras, merece ou não a nossa aprovação. O enfoque quase exclusivo em situações hipotéticas e ideais (uma tendência, de resto, muito comum noutros debates populares na blogosfera) tem um interesse intelectual intrínseco e uma importância crucial para discutir essa coisa fundamental e demasiado esquecida em Portugal: o pré-político. Todavia, considero um pouco redutor cingirmo-nos quase exclusivamente a esse ângulo. É que o mundo está aí, com todas as suas imperfeições. E a política - perdão, a Política - não é mais do que a tentatida de encontrar um modo de convivência aceitável no meio de tantas imperfeições. Deixo, assim, um comentário (em jeito de pedido) aos idealistas neste debate: ninguém vos nega o direito a frisar aquilo que seria a (vossa) situação ideal, mas não deixem tal ênfase adquirir um carácter próximo do absoluto, enquanto argumento realmente importante para a questão em debate. Sobretudo, digo eu, tendo em conta que nesta questão estão envolvidas, entre outras coisas, pessoas bem reais, que não indivíduos hipotéticos de uma interessante reflexão teórica.

No comments: