Tuesday 23 January 2007

Um objectivo comum - a individualizar

Não podemos cair na ingenuidade de reduzir aquilo que motiva cada um de nós ao objectivo colectivo de ver o Sim ganhar no dia 11/2. O objectivo de cada um dos apoiantes-militantes do Sim tem de ser individual: procurar contribuir para essa vitória. Dito assim, parece óbvio. Mas o ponto é que temos de ser pragmáticos, focando-nos no essencial. E o essencial são três coisas:

1. Não alienar actuais apoiantes do Sim;

2. Procurar convencer os diferentes tipos de indecisos, indo directos às suas questões, dúvidas e/ou impedimentos de um apoio mais convicto ao Sim;

3. Não perder tempo a tentar convencer apoiantes convictos do Não a mudar de opinião.

O que interessa é ter em conta, em cada coisa que se diz ou escreve, o efeito líquido que isso terá para o Sim. Se pensarmos nas declarações de Correia de Campos ou de Carlos Carvalhas, o ponto 1. é por demais óbvio. Os pontos 2. e 3. são menos óbvios.

Os erros fundamentais em que os militantes que se assumam como pragmáticos do Sim podem incorrer são a perda de tempo em discussões contraproducentes ou em discussões que não adiantam nada em termos de benefícios para o Sim no dia 11/2. As discussões contraproducentes têm um efeito directo negativo para o Sim; as discussões que não adiantam nada têm um efeito directo nulo, mas um efeito global negativo, se considerarmos que esse tempo podia ser mais bem aproveitado noutras (não só discussões) alternativas.

Existem imensos desafios intelectuais na questão do aborto e há quem se deleite, legitimimamente, a explorá-los. Sendo a blogosfera particularmente propícia a lutas intelectuais, onde o puro combate pessoal está sempre a um passo - e porque este geralmente prejudica o lado do Sim -, importa não perder o Norte: deixar o acessório; ignorar o que deve ser ignorado; resistir a provocações; não responder a tudo aquilo com que não se concorda; procurar, enfim, ser eficaz, utilizando o tempo e a palavra falada e escrita de forma útil.

Um exemplo? O tempo gasto a discutir o estatuto do feto. No mínimo, discutir isso é uma pura perda de tempo, mas normalmente é contraproducente. (Falo de um ponto de vista puramente pragmático; não sugiro que discutir o estatuto do feto não seja interessante ou importante "em si mesmo", enquanto debate filosófico e fundacional-civilizacional). Outro: entrar em discussões inúteis, de carácter jurídico, que pouco importam para o efeito líquido de contribuir para que o Sim ganhe. (Algumas são importantes e essenciais - refiro-me às inúteis, casos magistrais de masturbação intelectual).

Do pouco (e acreditem que não é fazer estilo) que tenho lido sobre o aborto na blogosfera, e entre alguns textos notáveis de outras pessoas, julgo merecer destaque Carlos Abreu Amorim (CAA). Em todos os posts que escreve, percebe-se a intenção de interpelar indecisos, expondo de forma eficaz - curta e clara - argumentos que os possam convencer. Não o vejo perder tempo com assuntos que pouco importam. Como creio ser já perceptível, pelo que escrevo e já escrevi, é essa também a minha postura.

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