Tuesday 6 February 2007

Afinidades (5)

Prometi a mim mesmo que evitaria aqui publicar posts de carácter "intimista", mas há coisas que nos ultrapassam. Talvez seja natural, numa altura em que as palavras deixam de ter sentido, em que se falam em fetos, bebés, crianças, filhos, como se fossem total sinónimos, e de aborto e homícidio e assassínio como se sinónimos fossem, que não se saiba distinguir cordialidade de intimidade, cumplicidade intelectual de cumplicidade pessoal, conversação de confraternização.

Já desconfiava que este post fosse causar "confusão" a alguns "liberais", numa blogosfera que (não estou a criticar, estou a constatar, as coisas são o que são e cada um é como é) onde o que mais conta são as companhias, as jantaradas, as festanças, as guerras colectivas. Quer dizer, haverá espanto por eu dizer uma coisa simples: sim, sou capaz de discutir e debater o que quer que seja com quer que seja, desde fascistas a comunistas; não, não tenho qualquer interesse, vontade, desejo de ir para os copos com pessoas que votem Não neste referendo. Não vou explicar porquê, de certeza que quem vota Sim percebe isso, ainda que tenha "requerimentos" diferentes quanto a confraternização. Mas eu não sou dado a confraternizações e não confundo amizade com mero entretenimento ou, talvez mais adequado, no micro-cosmos da blogosfera, com "networking". Não faz o meu género.

Ir para os copos é ir para os copos. Quem confunde (sem link) ir para os copos com ser capaz de discutir política ou ter respeito intelectual ou mesmo respeito pessoal, não está a ver bem a coisa. Nem afinidade política ou intelectual é o mesmo que respeito político ou intelectual, nem afinidade pessoal é o mesmo que afinidade política ou intelectual. De tudo o que tenho lido sobre o Não, terá havido uma ou outra excepção que não tornou óbvio como seria uma noite chata e medonha, sem afinidades nenhumas, em ir para os copos com os Nãos que por aí andam. Mas estejam descansados, que estou sempre aberto à discussão. Mas não vou para os copos com qualquer um, é verdade. Aliás, vou mesmo com muito poucos. Cada um é como cada qual.

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