Saturday 3 February 2007

Destrunfar o Não (3)

Sócrates devia também dizer que o aborto nunca será gratuito para quem o peça, seja ou não realizado no SNS. Devia dizer, sem adiantar números (ele em comunicação é bom), que o aborto será sempre "primordialmente" (ou maioritariamente, ou substancialmente, etc.) suportado pela mulher que o requeira. Isto - para além de, na minha opinião, ser justo - arrumaria com o argumento de que o aborto vai ser financiado com os impostos de todos, trazendo, simultaneamente, uma tónica acrescida de responsabilização das mulheres. Mesmo sem dizer números, Sócrates poderia adiantar que a maioria dos abortos não requer internamento. E, sendo o aborto lícito, as mulheres tenderão a requerê-lo e a fazê-lo - se o pedido for aceite - numa fase mais precoce do que actualmente fazem na clandestinidade.

Não tenho dúvidas que, com as economias de escala que existem nos hospitais, o aborto será sempre muito mais barato do que é actualmente na clandestinidade. Logo, a mulher preferiria sempre o aborto não clandestino, por ser mais seguro e mais barato. Há alguns pessimistas que dizem, com alguma razão, que a clandestinidade continuará porque as mulheres têm "vergonha", etc., etc.. Pois é, amigos, essa vergonha, todo o estigma social associado à prática do aborto (mais que compreensível, diga-se) não muda da noite para o dia. Acontece que aprovar uma lei que despenalize o aborto em certo período é o primeiro passo para que a médio e longo prazo isso deixe de ser assim. O primeiro passo, caros amigos. Deixem lá as contruções teóricas e as situações ideias, cheias de perfeição institucional e formal e assentem os pezinhos no chão. The real world is down here.

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