Sunday 4 February 2007

Guterres e Marcelo

Votei Cavaco. Nunca teria votado, em 2006, em Soares, naquele Soares. Não morro de amores por Cavaco enquanto político. Nunca vi nele brilhantismo quando o tive como professor de Economia Pública. Era, simplesmente, um bom professor. Cavaco parece-me adequado para o cargo que actualmente detém. Não tem a cultura e a leitura de outros, é verdade, mas não façamos do cargo máximo da Nação aquilo que ele não é. Não tenho dúvidas que Guterres seria um excelente Presidente da República. Não ponderaria, por um segundo - se por acaso tivesse sido possível, o que ainda se equacionou -, votar nele em 2006, por uma questão simples: ele não merecia isso. Seria profundamente injusto que ele se pudesse passear por aí depois do que fez. A política também é feita de memória e é bom que alguém que prejudicou tanto o país, ainda que reunisse, como julgo que é indiscutível que ele reunia e continua a reunir qualidades para ser um bom Presidente da República, não chegasse lá. É bom cultivar a memória, não esquecer o passado na política e na acção política de cada um.

Marcelo, em 2016, vai sofrer o síndrome de Guterres. Não está em causa que ele tenha defendido o Não no referendo que se aproxima, obviamente. Está em causa a forma como o tem feito. A desonestidade intelectual, a manipulação, a dissimulação, a menorização das mulheres, o paternalismo embrulhado em sorrisos, e tudo o mais que todos conhecemos e que possivelmente não cabe aqui, dificilmente serão - espero - esquecidos pelos portugueses. Não vejam aqui qualquer espírito de vingança para com um militante convicto e popular do Não. Não é nada disso. É, meramente, uma questão de elementar justiça e de memória; de apreciação do carácter e da forma de estar na política. Quem age da forma como Marcelo tem agido, não merece ser Presidente da República. Pelo menos, não merece o meu voto. Poderei votar em branco, mas em Marcelo, nunca.

Assim, não, caro professor.

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