"E se tu não tivesses nascido, como é que era? Gostavas de ter sido abortado? Como é que podes apoiar o Sim?"
Esta ideia propõe um exercício contrafactual - e, nisso, pressupõe a legitimidade de o fazer - que é inaceitável. E é inaceitável porque esse exercício é ontologicamente absurdo. Melhor: é "o" absurdo. Simplesmente, "não aplica". Uma coisa é perguntarmos a alguém, que existe, o que sentiria se, no decorrer da sua existência, tivesse escolhido, digamos, estudar Matemática em vez de Filosofia. Outra coisa, qualitativamente diferente, é perguntar a alguém, que existe, como seria se nunca tivesse chegado a existir. Não é aceitável, em termos formais e mesmo em termos substantivos, fazer este tipo de pergunta. É falacioso.
Há toda a legitimidade - e falo de legitimidade formal - em defender que um aborto é tão grave como um homícidio de uma criança saudável de 7 anos ou um bebé indefeso de 6 meses. Pode ser "chocante" para alguns fazer tal comparação, mas não há nada de lógica ou ontologicamente inaceitável nessa asserção. Já a ideia do "E se tu tivesses sido abortado?" é (ontologicamente) inaceitável (pelo que não pode ser colocada). Logo, cartão vermelho, vermelhíssimo, para quem o disser. Expulsão directa, irrevogável e inequivocamente assumida. Pedindo emprestada uma assertividade extra ao meu caro Henrique Raposo, declaro o seguinte: quem não compreender e aceitar isto que acabei de escrever, não merece estar num debate. Mas pode lá estar.
(Só que não o merece, mas pode lá estar. Mas não o merece.)
Há toda a legitimidade - e falo de legitimidade formal - em defender que um aborto é tão grave como um homícidio de uma criança saudável de 7 anos ou um bebé indefeso de 6 meses. Pode ser "chocante" para alguns fazer tal comparação, mas não há nada de lógica ou ontologicamente inaceitável nessa asserção. Já a ideia do "E se tu tivesses sido abortado?" é (ontologicamente) inaceitável (pelo que não pode ser colocada). Logo, cartão vermelho, vermelhíssimo, para quem o disser. Expulsão directa, irrevogável e inequivocamente assumida. Pedindo emprestada uma assertividade extra ao meu caro Henrique Raposo, declaro o seguinte: quem não compreender e aceitar isto que acabei de escrever, não merece estar num debate. Mas pode lá estar.
(Só que não o merece, mas pode lá estar. Mas não o merece.)
1 comment:
essa pergunta já poderia fazer algum sentido com uma pequena mudança de tempos verbais, para "terias gostado de ter sido abortado?", mas mesmo assim só para abortos posteriores a algum grau de actividade cerebral que permitisse exprimentar sensações agradáveis ou desagradáveis.
Post a Comment