Confesso que me custa um pouco entender, à luz dos princípios que Pedro Arroja aqui presenta, a sua decisão final de abtenção. Pedro Arroja apresenta excertos de uma conversa que teve com uma das suas filhas, onde se destaca este princípio:
A multidão não tem autoridade sobre o teu corpo. Só tu é que tens.
Pergunta: sabendo que a lei actual vai contra o princípio defendido por Pedro Arroja, não será tal abstenção incoerente? Não necessariamente. Pedro Arroja refere não só não ser adepto de um referendo sobre estas questões, como, em posts anteriores, percebemos ter outras reservas (legítimas) quanto a possíveis consequências de uma vitória do sim.
Mas, ou se muda a lei ou se mantém a lei. Mais: ou se escolhe um comportamento eleitoral favorável à alteração da lei ou à sua manutenção. Esta escolha é dual. Se Pedro Arroja se abstém, contribui para manter uma lei da qual discorda, dado o status-quo e as regras do referendo. Se vota sim, participa num processo do qual não gosta particularmente, engolindo ainda, com toda a certeza, um ou outro sapo no caminho.
Não faço juízos de valor sobre a ponderação final dos vários factores que estão em causa. Limito-me a dizer que sinto alguma estranheza em ver que um princípio tão forte para um espírito declaradamente liberal como o princípio de não interferência do estado neste assunto não é suficientemente forte para compensar tudo o resto, os sapos, a partidarite, etc.
Votar Sim é contribuir para "reparar" a situação actual, em que o estado diz muito. Abster-se é legítimo, mas vai contribuir para que nada mude e para que Portugal continue bem longe de ver consagrado esse princípio liberal de não intervenção do estado no dilema moral que é o aborto.
Não faço juízos de valor sobre a ponderação final dos vários factores que estão em causa. Limito-me a dizer que sinto alguma estranheza em ver que um princípio tão forte para um espírito declaradamente liberal como o princípio de não interferência do estado neste assunto não é suficientemente forte para compensar tudo o resto, os sapos, a partidarite, etc.
Votar Sim é contribuir para "reparar" a situação actual, em que o estado diz muito. Abster-se é legítimo, mas vai contribuir para que nada mude e para que Portugal continue bem longe de ver consagrado esse princípio liberal de não intervenção do estado no dilema moral que é o aborto.
Parte da estratégia pragmática do Sim tem que ver com a reflexão sobre os tais "sapos" que muitas pessoas não estão dispostas a engolir. Vou tentar, ao longo de próximos posts, explicar porque é que acho que existe uma sobrevalorização desses tais "sapos" que impedem um apoio mais alargado, ainda que com reservas de vária ordem, ao Sim.
1 comment:
"Abster-se é legítimo, mas vai contribuir para que nada mude"
Acho que não - abster-se em vez de votar "sim" contribui para que nada mude; abster-se em vez de votar "não" contribui para que a lei mude.
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