Falácias da Explicação - Invenção de Factos:
Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo fenómeno. A explicação é falaciosa se o fenómeno não ocorre ou se não houver prova de que possa ocorrer.
Ora pensem neste argumento, em si mesmo, usado pelo Não:
Uma explicação pretende dizer-nos por que razão acontece certo fenómeno. A explicação é falaciosa se o fenómeno não ocorre ou se não houver prova de que possa ocorrer.
Ora pensem neste argumento, em si mesmo, usado pelo Não:
"Eu voto não também porque a vitória do Sim levará a uma explosão nas listas de espera dos hospitais."
Estão a ver a razão invocada? O fenómeno que os defensores do Não prevêem vir a acontecer, caso vença o Sim? Passo a palavra a Luís Pedro Coelho, do Rabbit's Blog:
O argumento de que os abortos vão fazer explodir as listas de espera são absurdos. Até às dez semanas, a maioria dos abortos devem ser feitos quimicamente, o que não fará de modo algum explodir as listas de espera. Nos EUA, até se tomam os comprimidos em casa, sem necessidade de permanecer no hospital.
O argumento de que os abortos vão fazer explodir as listas de espera são absurdos. Até às dez semanas, a maioria dos abortos devem ser feitos quimicamente, o que não fará de modo algum explodir as listas de espera. Nos EUA, até se tomam os comprimidos em casa, sem necessidade de permanecer no hospital.
Nota importante: naturalmente, não estou a dizer que este é o argumento principal do Não, nem sequer que é um argumento dos mais importantes. Mas "grão a grão enche a galinha o papo". Continuarei aqui a ilustrar as falácias existentes em vários argumentos utilizados pelo Não, cada um deles necessariamente considerado de forma isolada, isto é, na (suposta) contribuição que faz para o (suposto) reforço da posição do Não. Só assim se faz uma discussão séria. Misturar vários argumentos num bolo de apelo à emoção, que não à razão, não é comigo. Assim - e porque na argumentação lógica o todo é sempre resultado da soma das partes -, a cada falácia exposta, mais fragilizado ficará, inevitavelmente, o todo argumentativo do Não. Com a perserverança que se exige, essa desmontagem, "peça a peça", continuará a ser esse o objectivo da série Falácias do Não.
PS1: A nota acima escrita foi escrita de forma a esclarecer os leitores de que é possível e desejável que se debata este tema questão a questão. Julguei que isso estaria implícito, mas o comentário de Duarte Meira incentivou-me a esclarecê-lo.
PS2: Quanto ao comentário de Fernando Gouveia: hesitei em referir que este argumento (parcial) do Sim é também uma Falácia de Dispersão, mais concretamente, de Derrapagem (ou Bola de Neve), ao extrair consequências lógicas inaceitáveis de uma premissa - como muito bem refere. Para não sobrecarregar o post (original...) e por achar que, mais do que dar um passo ilógico em si mesmo, o mais grave é inventar um facto que não tem qualquer sentido, optei por destacar apenas esta falácia.
3 comments:
Quem é que defende o NÃO por causa de listas de espera?
O comentário acena a um espantalho com outro! Grande lógica.
Caro Tiago,
Parabéns pelo blogue, que conheci através do 'Sim no Referendo'.
Também eu sou apaixonado pela Lógica e pela detecção de falácias (alguns dirão que o meu objectivo é tornar as *minhas* mais indetectáveis...). Por isso acrescente lá esta: o argumento da sobrelotação dos hospitais é também uma falácia de dispersão, concretamente de derrapagem (bola de neve ou declive ardiloso).
As intervenções dos defensores do Não são um 'case study', um maná para quem quer encontrar exemplos concretos para ilustrar o guia de Stephen Downes. Compete-nos não cair na mesma asneira, não entrarmos no mesmo ringue de luta na lama. (Eu vou tentando, nem sempre com muito sucesso — pecador me confesso.) Por isso só tenho a agradecer-lhe este blogue.
Em relação ao comentário de Duarte Meira: o uso do 'argumento' das listas de espera por algum apoiante do Não está documentado (p.ex., num blogue assumidamente do Não ou no site de algum dos movimentos do Não)? É que, se não está, o Meira tem razão...
OK, respondo a minha própria questão (e a Duarte Meira): Aqui, e aqui, e aqui, e aqui, e aqui, e aqui (Ecclesia).
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